As minhas séries e filmes de 2023
Apesar de me ter maravilhado com Joe Pera Talks With You, vi poucas séries em 2023. Gostei muito de Jury Duty, que recalcula as fronteiras entre realidade e comédia de um jeito talvez mais palatável do que o de Nathan Fielder; e de Swarm, um "true crime" com sensibilidade Atlanta e interpretado por uma Dominique Fishback tão fenomenal que consegue roubar até cenas em que não tem falas.
Mas o ano foi do cinema. Do Barbie vs. Oppenheimer. Dos "buyopics" (Tetris, Air, BlackBerry, outros tantos). E principalmente destes filmes incríveis que não me saem da cabeça:
9. Reality. A intervenção policial que vemos neste telefilme da HBO aconteceu de verdade. Os diálogos adaptam em tempo real a gravação que dela se fez, e a ausência de falas inventadas só torna mais admirável a forma como nos enreda na trama. É como se o mundo real tivesse escrito sozinho uma peça de teatro.
8. Cuando acecha la maldad. Mal-estar e inquietação permanentes num filme de terror argentino, levando a uma metáfora poderosa sobre a pandemia, a política do nosso tempo e as divisões de classe.
7. Saltburn. É um filme desconfortável de assistir, mas que se entranha. A diretora/roteirista Emerald Fennell é ótima na construção dos seus atos finais e Barry Keoghan é um ator inacreditável, detalhista ao nível da obsessão.
6. Rotting in the Sun. Não assistam com as crianças ou com pessoas mais impressionáveis e preparem-se para uma comédia escandalosa que não respeita nada nem ninguém, incluindo o seu próprio realizador e público.
5. Afire. Um filme muito elegante, que reflete nas suas personagens as tensões passadas e atuais na Europa, como o racismo, a imigração, os traumas históricos e a iminente sensação de ruína das tolerâncias do século XX.
4. Beau is Afraid. Reconciliei-me com Ari Aster quando, ao rever Midsommar e Hereditary, percebi que ele não é exatamente um cineasta de género, mas de temas: neuroses, o problema da família, a mãe sufocante, religiões opressivas, violências privadas e públicas, e por aí fora. Perceber isso antes de assistir este filme fez-me apreciá-lo mais. Longo, sim, mas muito impressionante.
3. May September. Grande jogo de espelhos entre Natalie Portman e Julianne Moore. Todd Haynes honra tanto Persona quanto a telenovela e constrói o que, acima de tudo, me parece uma sátira ao modo como hoje fazemos e consumimos histórias.
2. Retratos Fantasmas. Tudo de que gosto sobre cinema está neste documentário de Kleber Mendonça Filho, tanto no que mostra quanto no jeito de mostrar.
1. Asteroid City. Discordo em absoluto de quem diz que é igual a tudo que o Wes Anderson faz. Acho até que ele aponta para vários caminhos novos da obra do diretor. É um refresco de imagem e ritmos para os olhos e para a cabeça. Tudo tão bonito. Assisti três vezes.